Adaptação das “Caçadas de Pedrinho” para um roteiro de RPG.
O conto inicia com Marquês de Rabicó aventurando-se no Arraial dos Tucanos, um local que Dona Benta não deixava as crianças irem sozinhas, e lá ouviu rumores de que o Coronel Teodorico estaria requisitando ajuda para campanha de combate a um terrível mal que começava a causar aflição no vilarejo e em cidades vizinhas. Era uma coisa horrível que atacava as pessoas, provocando febre, dores, ínguas, diarréias, manchas pelo corpo, entre outros males terríveis.
O Marquês logo suspeitou de uma virose, chegou assustado em casa e comunicou sua suposição a Pedrinho.
Pedrinho acreditando em Rabicó, contou o fato a Narizinho. Esta pensou em contar a Dona Benta sobre a descoberta do terrível problema por Rabicó, mas Pedrinho a impediu, argumentando que Dona Benta não os deixaria participar de tal campanha.
Narizinho tentou persuadir Pedrinho a desistir da idéia, mas Pedrinho foi irredutível em seu propósito, e disse que partiria para essa missão nem que fosse sozinho.
Narizinho, vendo a coragem e a complacência de Pedrinho e não querendo ficar para trás, aceitou participar da expedição.
Então os dois saíram em busca dos demais companheiros. O primeiro que encontraram foi Rabicó, este não queria participar, mas Pedrinho o obrigou a ir. O segundo que encontraram era Visconde de Sabugosa, que aceitou o convite com toda dignidade e nobreza, e convidaram também Emília, que recebeu a idéia com palmas, pois enfim teriam uma aventura importante. Foram ao encontro de Zé Carijó, como medroso que é, recusou prontamente, mas como sempre foi convencido a participar. Nesse momento aparece o Saci, como ficou grato a Pedrinho, por tê-lo tirado de um redemoinho de vento, aceita ajudar. E por fim convidaram o Burro falante, considerado pela Emília um grande conselheiro.
Todos se preparam para a expedição e no dia marcado, saíram em silêncio para que as duas senhoras não percebessem. Passaram a porteira do pasto seguiram em direção ao vilarejo. Ao chegarem, foram logo procurando o Coronel Teodorico para saberem mais sobre a missão. Que de imediato negou a participação deles por serem muito jovens, inexperientes para trabalho tão difícil e complexo. E disse mais: A doença, uma tal de AIDS, causada por um tal de HIV, é muito perigosa, ainda não há cura, apesar de esforços dos médicos das grandes cidades. Que a única coisa a se fazer no momento é tratar os doentes e evitar a transmissão a outras pessoas.
Emília como era muito teimosa e desafiadora, disse-lhe que se não aceitasse a ajuda, ela e todos do Sítio seriam oposição nas próximas eleições, o que foi consentido e aprovado por todos os presentes.
Conhecendo a fama da equipe, e não querendo problemas nas próximas eleições, o coronel aceitou, mas com uma condição. Que estudassem e fizessem um teste de conhecimentos gerais sobre a doença. Caso se mostrassem capazes, seriam integrados na campanha.
Por serem corajosos, aventureiros, criativos contarem com a astúcia e inteligência de Visconde, prontamente aceitaram o desafio.
Entretanto, passado alguns instantes, os olhares se cruzaram e o silêncio tomou conta do ambiente. Uma questão surgiu na cabeça de todos: “onde vamos encontrar material sobre isso?
Quando repentinamente, Emília com sua sagacidade disse, com certo desdém: “O Visconde não é o sabe tudo? Ele que nos ensine” e disse ainda: “como mandona que é - Saci vá até uma biblioteca e traga tudo quanto possível sobre esse tal de HIV/AIDS”. E assim, Saci o fez como num passe de mágica trouxe uma grande diversidade de material.
Visconde organizou o material e todos leram, releram e discutiram. Dúvidas foram surgindo. Emília foi logo perguntando: “o que é essa tal de AIDS?” Visconde respondeu: “é a Síndrome da imunodeficiência adquirida”. Emília, com sua irreverência característica, disse, “mas isso é um tremendo palavrão”. Embora o clima estivesse tenso, arrancou alguns risos.
E assim continuou, em determinados instantes Visconde intervinha, mediando e fazendo esclarecimentos.
Algum tempo depois... Após manusearem e explorarem todo o material, cada um expôs sua contribuição:
A primeira a iniciar, como não poderia ser diferente, foi a boneca falante. “Que em alto e bom tom disse”: “ Vou dizer como se pega esse troço”. Uma das formas é através do sangue, que é rico em linfócitos. Quando o sangue infectado pelo HIV cai na corrente sanguínea de uma pessoa, o vírus encontra situação ideal para se reproduzir. E as principais vias de transmissão que favorecem esse contato são a transfusão sanguínea e o compartilhamento de seringas durante o uso de droga injetável.
Nesse instante Visconde interrompe e diz: “Emília, você poderia nos falar sobre este vírus e o que a pessoa sente e porque sente ao entrar em contato com ele?” Após certo mistério ela respondeu: O Vírus da Imunodeficiência Humana, conhecido como HIV é um vírus pertencente à classe dos retrovírus e causador da AIDS. É um vírus muito complexo que muda muito, já existem 9 subtipos dele.
Ao entrar no organismo humano, interage com as células do sistema imunológico, responsável pela defesa do corpo. As células de defesa mais atingidas pelo vírus são os linfócitos CD4+, justamente aquelas que comandam a reposta específica de defesa do corpo diante de agentes como vírus e bactérias. O HIV vai usar o DNA da célula para fazer cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe a célula e os novos vírus caem na corrente sanguínea, indo buscar outras células para continuar sua multiplicação.
Quando o número de células de defesa fica abaixo de um nível crítico, o corpo humano perde a imunidade celular e surgem os sintomas como a febre, sudorese noturna, diarréia e perda de peso. Em seguida, surgem as infecções por uma variedade de agentes oportunistas.
Todos disseram: “Muito bem Emília”.
Em seguida veio o Burro falante e disse: “Vou falar sobre o sêmen e secreção vaginal. Nessas secreções há uma grande quantidade de HIV, capaz de infectar um (a) parceiro (a) durante o ato sexual. A infecção ocorre porque os órgãos genitais são muito irrigados por vasos sanguíneos possuem uma mucosa que permite a passagem do HIV que está no sêmen ou na secreção vaginal para o sangue do(a) parceiro(a). Além disso, relação sexual pode causar pequenas fissuras na parede da vagina ou no pênis, devido ao atrito da penetração, facilitando ainda mais a transmissão.
E continuou: “as práticas sexuais que transmitem o HIV são: relação com penetração vaginal, relação anal e sexo oral. O sexo é a via de transmissão responsável pelo maior número de casos de AIDS no mundo. É importante lembrar que, qualquer prática sexual pode ser realizada sem risco de infecção pelo HIV, desde que o casal use camisinha masculina ou feminina”.
Nesse instante, Zé Carijó, envergonhado, intervém e questiona, com seu linguajar característico de homem do campo, como é que se fala “nessas coisas” perto da Narizinho, que ainda é tão jovem? No mesmo momento, ela agradece pela preocupação e o esclarece que já tem condições de lidar com essas informações e diz mais: “para quem já até “caçou” onça, esse assunto não causa nenhum espanto.
Agora é a minha vez, disse Pedrinho. O meu alerta é parar a transmissão vertical e aleitamento materno. E explica: “transmissão vertical é aquela transmitida de mãe para filho, durante a gravidez. Quanto à amamentação, o leite por possuir leucócitos pode conter grande quantidade de HIV quando a mãe é portadora. Assim, a mãe não pode amamentar o bebê”.
Agora já mais tranqüilo, Zé Carijó também contribui diz: “Assim não pega – Lágrimas, suor e saliva, apesar de terem os tais linfócitos, a concentração de vírus é pequena neles”. Mas alerta: “Se as pessoas tiverem alguma lesão na boca, que possibilite contato com o sangue, o risco pode existir”.
O Saci, com seu cachimbo exalante, ainda lembra: “Gente , o HIV é pouco resistente ao álcool, detergente e à água sanitária. Em contato com esses elementos morre em pouco tempo”.
Visconde ainda lembra que o preservativo é a única forma de evitar o HIV através das relações sexuais. E explica detalhadamente, através do modelo anatômico, o processo correto e enumera diversas vantagens para se usá-lo.
Finalmente, entusiasmado com a aptidão e predisposição dos aprendizes, Visconde afirma: “estamos prontos”. E chama o Coronel para a aplicação dos testes.
Então, o Coronel, demonstrando grande incredulidade, apresenta o teste:
1- Que tipo de microorganismo causa a AIDS?
( ) A bactéria da imunodeficiência humana ( ) Um vírus ( ) Um fungo da secreção vaginal
2- A saliva de um doente de AIDS pode contaminar uma pessoa sadia?
( ) Sim ( ) Não ( ) Depende do estágio da doença
3- Entre os portadores do HIV, quem transmite a AIDS?
( ) Somente os homens ( ) Somente as mulheres ( ) Homens e mulheres
4- O HIV destrói o quê?
( ) Os linfócitos T, células de defesa do organismo. ( ) Os retrovírus do organismo ( ) Todos os anticorpos do organismo
5- Por que é importante usar camisinha para a prevenção da AIDS?
( ) Porque a AIDS só é transmitida pelas relações homossexuais
( ) Porque o contato sexual é responsável por grande parte da transmissão da AIDS
( ) Porque a camisinha protege contra o suor das pessoas infectadas
6- Entre os líquidos do corpo humano que transmitem a AIDS, pode (m) ser citado (s) ______.
( ) O sangue ( ) O sêmen ( ) O sangue e o sêmen
7- No glossário da AIDS, o que é o AZT?
( ) Um tipo de medicação que prolonga a vida dos pacientes ( ) A vacina para a AIDS ( ) Um teste sorológico que detecta a presença de anticorpos ao vírus HIV
8- Em geral, quais são os primeiros sintomas da AIDS?
( ) Perda da coordenação motora e vômitos ( ) Perda de peso e febre alta
( ) Lesões na pele causadas pelo sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer.
9- No mundo, quantas crianças ou adolescentes com menos de 15 anos são portadoras do vírus da AIDS?
( ) Cerca de 2,1 milhões ( ) Cerca de 21 milhões ( ) Não há crianças portadoras do vírus da AIDS, apenas adolescentes e adultos.
10- O Brasil é referência mundial no tratamento da AIDS. Nas cidades do país, o teste para detectar a doença e o tratamento são _______.
( ) Gratuitos ( ) Obrigatórios ( ) Pagos em parcelas
Algum tempo depois, com os resultados em mãos, o Coronel ficou muito espantado, mas demonstrou grande admiração e contentamento por ter uma equipe tão bem preparada para a batalha contra o terrível inimigo.
Conhecendo o inimigo e sua forma de ação, liderados por Visconde de Sabugosa partiram para a luta. Com o objetivo de atingir bons resultados rapidamente, resolveram atuar em duas frentes. Enquanto uma equipe fazia esclarecimentos quanto às formas de prevenção e contágio, usando diversos materiais como cartazes, folhetos, modelos anatômicos da genitália, preservativos e vídeos. Visconde e o Saci tentavam produzir substâncias que permitissem diagnosticar e curar os doentes. Tentaram e tentaram e não tiveram grandes progressos em obter um resultado satisfatório.
Neste momento, já desesperados, lembraram da cuca e resolveram ir ao seu encontro, apesar de ser muito má e perversa, era muito habilidosa na criação de poções.
Mas como obter sua ajuda, se ela era tão má. Além disso. Ajudar, colaborar, cooperar eram palavras que não faziam parte do seu vocabulário.
Era de conhecimento de todos que a cuca fazia questão de ser a criatura mais maléfica da região, não aceitando que outros bruxos se aproximassem do seu território. E qualquer tentativa era abruptamente interrompida.
Mesmo assim, Visconde e o Saci chegaram à sua caverna. Visconde usando de sua astúcia e criatividade teve uma brilhante idéia! Disse que um grande bruxo, chamado HIV, estava dominando a região, causando grandes males às pessoas, inclusive a morte. No que foi interrompido por grandes gargalhadas proferidas por ela, dizendo em seguida: Não tenho nada a ver com isso e não quero me envolver. O Saci intercedeu e implorou que ela os ajudasse, mesmo assim ela se mostrou reticente. E disse: “vão embora daqui, ou vou transformá-los em pedra”.
Já desesperado, quase sem esperança. Visconde resolveu fazer mais uma tentativa. Apelou desta vez, ao egoísmo, à maldade e ao grande sonho da cuca, que era tomar o sítio. E foi logo lhe dizendo, que o “grande bruxo, um dos maiores e mais perigosos de todos os tempos queria na realidade controlar o sítio e que destruiria a todos nesse intento. Ainda explicava, quando sem hesitação ela o interrompeu mais uma vez, dizendo-lhe “está bem”... está bem... já chega... aquele sítio ainda vai ser meu... e eu sou a bruxa mais poderosa que existe”, já muito furiosa disse: “como posso ajudá-los?”.
Visconde ficou muito contente, pois havia conseguido convencer a criatura perversa a realizar um gesto de bondade, embora ela nem sonhasse isso. E ele foi dando as dicas e ela criando poções e mais poções de diversos tipos. E ela disse “com uma voz firme e cheia de maldade, vão”... “vão logo, antes que eu mude de idéia...”.
Visconde misturou todas as poções, criando um tipo de coquetel e partiu com o saci, rumo ao vilarejo, ao encontro da outra equipe liderada por Pedrinho, que estava em plena atividade de esclarecimento e conscientização.
O coquetel foi distribuído a todos os que já apresentavam os sintomas e o efeito foi animador. Apesar de não ficarem curadas, as pessoas adquiriram, visivelmente, uma melhor qualidade de vida, apesar dos efeitos colaterais das substâncias ingeridas.
Visconde com sua grande sabedoria alertou – “Gente, Não há receitas ou fórmulas milagrosas para tratar a AIDS. Todos os tratamentos complementares são individualizados, levam em consideração a pessoa como um todo, avaliam o estado físico e emocional para determinar a conduta terapêutica e devem ser realizados por profissionais de saúde devidamente capacitados – e não parem o tratamento”.
E foi assim que todos lutaram com grande fúria e bravura contra o grande bruxo HIV e seus males, usando a criatividade e as armas de que dispunham.
Voltaram ao sítio com a sensação de dever cumprido. Emília, a todo instante, se vangloriava de que o mérito maior era dela, pois as idéias mais importantes partiram da sua cabecinha. O que foi prontamente negado por Visconde. Complementando que o mérito era de todos, que cada um deu sua melhor contribuição e que a idéia na verdade partiu de Pedrinho, que foi muito persistente.
Ao chegarem ao Sítio, para espanto de todos, Dona Benta e tia Anastácia ficaram encantadas e perplexas com a coragem dos seus pupilos e com a repercussão dos fatos por meio do rádio. E tia Anastácia com sua costumeira simplicidade de sempre disse: “este mundo ta perdido”...
Algum tempo depois... A trupe do sítio ficou sabendo que muitos outros problemas foram surgindo, com os portadores do HIV, tais como, preconceito, discriminação, entre outros.
Mas essa é outra história...
12.12.09
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